Escritora Fantasma
Se extinguia o negro úmido da noite e surgia um branco alvo da manhã, maroto no começo, as cortinas cruzando as sombras e as luzes em nosso quarto como numa dança alegre de bom dia, mas alva dormia na cama; eu não sabia ao certo seu nome, mas para quê saber dessas coisas que são de decisão dos pais? Muitas vezes a imagem que se forma em frente, levantando esse falso nome, uma garota como aquela deveria se chamar Afrodite e endoidecer os amantes; contristar almas em torno do seu dorso na hora da partida; desfigurar o posto de macho daquele mais viril ser serviente; eu mesmo acabei me tornando escravo dos seus dons que incham o meu ego, trepo com distinção, tornando-me mais humano.
Chamo-a de Helena, nome que ouvi por várias vezes até saber que uma guerra insuportável, como são todas as guerras, ocorreu por causa desse nome. Realmente aquela imagem estendida entre os lençóis demonstrando um seio, uma bunda e um braço, só a essa visão já valeria uma guerra não territorial, mas apaixonante, com conclusões e perdas irreparáveis.
Bem verdade, criamos um laço de afinidades onde permitia que a jovem escrevesse contos no notebook, ela estava dentre as 30 pessoas que compraram meu último livro de contos chamado “Os Contos Bravos de Um Naufrágio”, com as páginas impregnadas de luxúria e lascívia; a jovem me entende e me aceita no coito das noites.
A gladiadora noturna me viu certa vez na biblioteca pública para concluir umas pesquisas sobre literatura, como não consiste em minha mente o gasto muito expressivo de dinheiro para a compra de livros, então resolvi ir à biblioteca por alguns dias reunir um material para uma pequena análise. Confesso que, no dia que a vi, não consegui ler letra sequer, a leitura do teu corpo foi substancial, preencheu-me com algo maior que qualquer outro tipo de conhecimento mundano, só teu corpo interessava-me; esse seria o conhecimento que queria para realizar a própria literatura que me atordoava com suas histórias imundas. Parecia que o deus Bragi da poesia depositava aquele pomo dourado em minha frente, a fortificação dos meus contos, a raiz dos maldizentes escárnios da manhã, os primeiros cuspes de palavras ignóbeis logo no primeiro estalido do sol em nossos rostos.
E assim se fez, durante 1 ano ininterrupto de sexos noturnos. Nossas 365 manhãs foram de escritas espontâneas. Tinha escrito dois livros de contos e alguns poemas. Cada conto parecia o orgasmo instaurado da noite passada, era como escrever a rendição e salvação que houvera em minha alma no sexo sagrado das noites com aquela jovem mulher que não mudara absolutamente nada; realmente um presente de Deus.
A tarde em que a vi sentada de cabelos encaracolados lendo algo que não identifiquei, e nunca soube, mas a capa e contracapa detalhavam um verde, a bem da verdade preferi nem saber o que lera, mas, verdade, ainda não sei nada sobre essa garota, como sempre acreditei que se tratava de algum milagre para a minha escrita; as suas particularidades não me importavam, nunca me importaram. Era como um trato exótico entre noites de sexo e escritas vertiginosas nas manhas, mas nada de particularidades; afinal para que serviria essa convenção tola, apenas para destruir o que conquistamos desde o primeiro olhar.
Naquela tarde em que, levantando a cabeça, deu de encontro com meus olhos em um ângulo inclinado, mas não submetido, firme, direto, quase como um raio-x penetrando em minhas retinas. Eu me desfigurava naquele instante, não sabia em qual situação me encontrava, não sabia nem o que era tudo aquilo. Perdi os sentidos o tempo e minha mente. Isso pareceria um drama para quem lê, algo chinelento, romântico ou simbolista, mas bem verdade que durou 1 ano, uma coisa assim não pode ser chamada de simples drama. Foi real toda essa fantasia.
Imagine, leitor, viver por um ano banhado a um sexo divinamente orgástico de alguém que apenas a presença pode ser encarada como o próprio orgasmo, e todas as manhãs ser celebrado não com pão, mas com todas as palavras fornecidas pela memória ou deuses em uma sintonia ininterrupta; todos os dias tinham a salvação e a escrita, que são as mesmas coisas, vindas de uma ninfa irradiante.
Fantasia essa que me arrastou para o banheiro dos fundos da biblioteca, enquanto eu disfarçava que pegava um livro na estante só para deixar brechas para ver suas pernas na tentativa de vislumbrar não muito menos que sua xota, o formato pelo menos, e quando o livro foi retirado, lá não estava a garota, suspeitei que as leituras me fizeram endoidar como Cervantes e James Joyce, achei que a imagética se materializara; quando desviando o olhar em um passe de mágica, de repente, fui tragado por duas mãos tão singelas; não sabia da força da leveza. Fui tirado do chão e sem sentidos levado para dentro de um banheiro onde trepidante trepou-se em cima de mim, e pude perceber aqueles lábios grossos na minha boca e no peito. Já não restava mais dúvida, era ela; transamos calados; abafados pela acusação de crime em local público. Calados, mas com fervor, era algo como telepático e a vontade de explodir de contentamento me vinha e acredito que a ela também.
Nunca a vi transar sem demonstrar nenhum sinal de reação, seja com a boca, os olhos, as mãos e apertos e grunhidos incessantes. A primeira vez ninguém esquece, mas essa foi uma espécie de demonstração; sem dizer palavras deixei um endereço nas suas mãos com caneta estereográfica preta, um horário e ela mesmo deu-me tchau com os olhos.
Não esperei que ela fosse ao local na hora combinada, mas me arrependi de ter duvidado, às 21 horas ela aparecera, eu me encontrava agoniado desde a hora que me deixou com o pau esticado batendo a barriga naquele banheiro, ainda passei mais 5 minutos sentado no vaso, estarrecido, imaginativo, desde esse momento eu não fui mais eu, mas somente tesão. Custei a pegar no sono, dormi menos de 4 horas — o que para mim era um absurdo. Naquele dia nem me fizera falta. Comi um pouco antes de ir ao encontro e levei um vinho do porto para o local, um motel não dos melhores possíveis, mas que dava para fazer tudo sem nojo algum.
Aquela noite foi a primeira das centenas de descobertas, em cima de minha mochila eu teria deixado meu último livro, já citado que além de amigos leitores e uns 3 que eu dei para parentes e três amigas complacentes sexuais e o meu revisor também, no mais, estou fodido nessa vida literária. Esse livro a chamou atenção logo quando chegara ao quarto.
Aquela noite o sexo foi como uma turbulência, realmente a primeira vez completa, com no mínimo uns 5 orgasmos da garota que me piraram a cabeça; também gozei e conquistei patamares nunca imaginados, a força dos dois foi equivalente e, pela primeira vez, alguém fazia sexo como realmente os meus sonhos demonstravam.
A seguir, quando o sol já escalava o céu, a garota confessara, em um dos poucos momentos de nossas conversações, que lera meus contos e estava à espera de mais publicações, se encontrara com as formas como eu expusera o sexo, em momentos e espaços muito reduzidos que se afunilam cada vez mais, muito singelo e estrito ao sexo como ato de libertação, ela sentiu ao mesmo tempo um macro salvador dentro de um micro luxurioso, era como o preconceito e censura atuavam detendo a Liberdade, mas o meu exemplo era diferente; o uso, eu não era um censurador, mas demonstrador de um caminho de salvação utilizado nesse instinto glorioso.
Aquilo me deixou realmente abestalhado, como diriam os mais velhos; minha Helena pedira para eu começar uma história enquanto ela ligava seu notebook às 5 horas da manhã com o rabo empinado e a buceta molhada na cama. Abriu um programa e eu comecei, inocente e inconsciente, no que correspondeu as minhas primeiras 6 páginas, intitulada Catharine. O que mais surpreendeu-me e demorou muito para que eu entendesse era a forma que minha heroína escrevia em compasso rítmico igual ao meu, a cada palavra uma batida de teclado a cada pausa de respiração uma pausa nos seus dedos, estava tudo sincronicamente perfeito, desde a noite sexual, as nossas manhãs em contos fluídos que proporcionaram minhas melhores transpirações.
Até o dia de hoje, ao nos despedirmos às 7 da manhã e retornar ao motel 21 da noite; esperei, porém, até 12 horas do dia seguinte e ninguém apareceu. Desesperei-me, nunca havíamos falado sobre nenhum tipo de coisa que remetesse a um relacionamento. Eu temia perdê-la a qualquer momento, não sabia nada a seu respeito. Uma única vez que ela cogitou alguma coisa dessas efemeridades sobre a vida foi dizer que; “o futuro é sempre incerto”, mas, só.
Então voltei ao motel o mês inteiro de 31 dias, mas nada da minha Helena. Dentro dessa espera foram 31 noites não dormidas. O costume e o vício me forneceram abstinências graves, eu nesse mundo-hospício, sem excessos de loucuras. A pressão desses dias foi algo bárbaro, mas monótono a ponto de não ser interessante discorrer sobre isso, leitores, vocês não precisam ouvir 31 dias de nada, as noites eram mais chatas e a abstinência sexual pela exclusividade da droga me rendeu 2 livros de contos inéditos e alguns poemas.
A bem verdade é que continuei minha vida e publiquei meu novo livro de contos chamado “tabernáculo perdido”. Se realmente ela voltar para minhas noites, manhãs e meus contos, eu não sei, mas seu contributivo me serviu e peço à/ poesia que continue a lançar dados para mim.
Se extinguia o negro úmido da noite e surgia um branco alvo da manhã, maroto no começo, as cortinas cruzando as sombras e as luzes em nosso quarto como...