Volúpia ao Luar
Estavam os dois no corredor de frente para a porta do quarto de casal. O castiçal ainda estava no banheiro, lançando uma luz bruxuleante para a penumbra do recinto. Entre palavras e gestos, dois olhares se cruzaram. O ambiente estava preparado, os corpos ardentes de desejo, sobre os dois, os deuses da volúpia sopraram uma leve brisa de acaso. Valéria dispôs, sobre uma pequena mesa, os objetos que levava consigo. Tomando o violão das mãos de Eurípedes e colocando-o no chão, abraçou-o pela cintura e deu-lhe o beijo quente e molhado. Um beijo intenso, sem nenhum pudor. Havia uma verdadeira entrega e um convite ao pecado. E esse convite foi logo entendido e aceito. Entre beijos e abraços os dois foram se encaminhando até a cama. Valéria empurrou levemente Eurípedes e se jogou por cima dele.
As roupas que, nesse momento se tornam um verdadeiro empecilho por demais inconveniente, foram tiradas uma por uma com calma e parcimônia. Valeria percebia a diferença de se deitar com um homem que realmente a desejava. Seu vestido era fechado pelas costas com uma infinidade de botões. Peça de vestuário que ela chegara a se arrepender de estar usando, mas quando viu o carinho e a delicadeza com que ele os desabotoava um por um sem nenhuma pressa, deixou-se levar por aquele momento de intensa entrega. Então logo percebeu o que era deitar-se nos braços de um homem verdadeiramente apaixonado.
Eurípedes desabotoou todos os botões com muita calma e um carinho zeloso. Cada botão aberto era um carinho que ele lhe fazia. Se o vestido que, pareceu um empecilho no primeiro momento, logo se tornou algo muito peculiar. A escolha da lingerie foi muito satisfatória. Era de rendas florais e da cor preta, fazendo contraste com a tez de tom claro semi roseado do corpo dela. Os beijos recebidos naquele processo de desnudamento de seu corpo, quase que se comparavam como todos os beijos que já havia recebido em toda a sua vida.
Aquele homem, como ela pensara, não tratava uma mulher como o fazia com o violão. O cuidado era muito maior. O carinho era tão grande e sincero que, quando ele a possuiu, a sensação que sentiu era do mais puro êxtase. Prazer sem igual como ela nunca tinha experimentado. De princípio ela teve medo, pois mesmo no escuro pôde perceber que os deuses da volúpia tinham presenteado Eurípedes com um instrumento sexual de tamanho incomum.
No entanto, tal qual o próprio violão, que ele tocava de forma magistral, daquele grandioso instrumento foram retiradas notas de tão bela harmonia, que ela pôde se entregar de braços abertos ao vento como se estivesse valsando num salão de baile. E é nessas horas que se percebe que mesmo o melhor dos instrumentos necessita de alguém que realmente saiba como usá-lo. Tudo foi profundo e intenso e antes dele dizer-lhe qualquer coisa, ela mordendo-lhe a orelha disse-lhe num sussurrante gemido:
–Você me levou até as nuvens, tive a impressão de ter visto o próprio paraíso!
Quando ele chegou ao orgasmo ela já estava na sua segunda vez. Ele todo suado e resfolegante, sorrindo respondeu, beijando-a com bastante ternura.
– Foi tão gostoso e diferente, como se eu nunca tivesse experimentado algo tão bom assim antes. Foi a melhor sensação que senti em toda minha vida.
Nas diversas voltas que deram um sobre o outro naquela louca intensidade, terminaram com ela deitada sobre ele. Eurípedes a olhava e sorria como uma criança. Valéria estava com os cabelos caídos sobre o rosto, os belos seios redondos e firmes com os mamilos rosa da cor de uma alvorada em estio, roçavam levemente o peito dele fazendo-lhe cócegas. E aqueles belos olhos verdes da cor de uma relva primaveril que o olhavam por cima e lhe penetravam fundo na alma, dizia-lhe em silêncio mil frases de amor. As palavras ditas até aquele momento até que poderiam ter sido exageradas ou mesmo, quem sabe, ter sido inventadas pelo calor do momento, mas a certeza e a sinceridade contidas naquele olhar era de um puro sentimento elevado. A luz do luar de uma lua já quase no horizonte a observá-los em posição de uma benção celeste, como uma sagrada testemunha daquele amor puro e desinteressado, quebrava a penumbra daquela alcova que fora, por um breve momento, um pedaço do paraíso na terra...
A dor vicia e adorna minha tez | Nas mãos de tua nascente, a violência... | Conduzes mais a fundo, embriaguez... | Na gris manhã te beijo em mi'a dolência...